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11 dezembro, 2013

Não faça seu filho feliz


Eu não quero fazer meus filhos felizes. Me empenho para isso.

Explico!

Quero muito que meus filhos sejam felizes. Que sejam as pessoas mais felizes do mundo. Alegres. Sorridentes. Plenas. 

Mas não quero que esta felicidade dependa de mim. 

Porque um dia eu vou faltar.

E, ainda que isso demore mais umas sete décadas (#otimismo, a gente vê por aqui), mais cedo ou mais tarde, meus filhos vão sair da barra da minha saia. 

Eles vão ter que se virar para se relacionar com a turminha da escola. Se entender com a professora. Chutar a bola no jogo de futebol. Comemorar o gol ou lamentar uma derrota. Participar de uma brincadeira numa festinha. Montar um brinquedo novo. Aprender uma piadinha. Estudar. Fazer prova.  

Muito provavelmente eu não estarei presente nesses pequenos momentos. Eu nem quero estar presente. Porque filho a gente cria debaixo da nossa asinha pro mundo. E tem horas que o filho tem que estar sozinho. É mais saudável pro desenvolvimento dele. Porque eu só vou atrapalhar. Eu sei disso. Porque já fui criança, oras.

Vai depender apenas deles se empenhar para fazer das atividades do dia-a-dia um momento de prazer e felicidade. Vai depender apenas deles conquistar amizades novas. Respeitar a professora nova. Ser respeitado. Aprender a chutar no gol. Brincar e brigar. Exercitar a paciência. Lutar por suas vontades. Conquistar sonhos. Assumir responsabilidades. E acredito que é da soma de tudo isso que nasce a felicidade dentro de cada um.

A primeira vez que me vi completamente sozinha foi numa viagem que fiz aos vinte anos de idade. S-o-z-i-n-h-a. C-o-m-p-l-e-t-a-m-e-n-t-e. Por trinta dias. 

Conheço poucas pessoas que já viajaram completamente sozinhas. Ida, estadia e volta. Recomendo.

Nessa minha viagem - que não foi pra uma ilha deserta - obviamente que cruzei com diversas pessoas, muitas das quais acabei convivendo por muitos dias e até fazendo amizades. Porém, eu estava all by myself. O que significa que eu fui sozinha, sem celular, sem ninguém pra me receber no meu local de destino, sem ninguém para me ajudar localizar um endereço ou me passar uma informação, sem ninguém conhecido com quem eu pudesse contar no caso de um imprevisto, sem ninguém para me ajudar a traduzir o idioma do lugar, sem ninguém pra me fazer companhia, sem ninguém no local onde fiquei hospedada, sem ninguém para me garantir uma refeição. All by myself. Mesmo.

E foi, de longe, a melhor viagem que eu fiz na vida. Descobri que sou ótima companhia pra mim mesmo. Que me basto.

É exatamente isso que desejo pros meus filhos. Que eles se bastem. Isso é receita de felicidade.    

Muita coisa vai dar certo. Outras talvez não. A vida é assim, não é mesmo? 

Mas, mesmo com erros e acertos, vitórias e derrotas, confio nos meus filhos e sei que eles vão conseguir fazer do limão uma limonada. Me empenho em passar a receita pra eles. Em fazer deles seres humanos inteiros. Lhes passar segurança, valores, princípios, tranquilidade, conhecimento. E, enquanto eu estiver nesse mundo, estarei sempre aqui para eles. Para t-u-d-o. Mas viver ficará a cargo de cada um.

A felicidade mora é dentro da gente. 


09 dezembro, 2013

Hora de dormir


A hora de dormir aqui em casa nunca foi um issue.

Tudo acontece da forma mais normal possível. Às oito da noite, acomodo filhotinhos nos seus devidos quartos, conto uma historinha, dou um beijo de boa-noite, apago a luz e saio. Simples assim!

Antes de mais nada, explico que nenhum dos meus filhos nasceu com um chip programado para longas noites de sono. Tampouco doutrinei-os à base do sofrimento (não sou nazista, tá?).

Mas dormir é essencial pra mim. Se eu não durmo, eu fico doente. Eu preciso dormir bem, dormir cedo, dormir muito. Pra manter a minha sanidade mental. Então, meus filhos também têm que dormir cedo, sozinhos e a noite toda.

E eduquei-os para isso. Com tempo, paciência, carinho, dois passos pra trás e um pra frente, revezamento com marido, olheiras, sono, etceteras e tais. Como qualquer mãe. Porque meus filhos são como qualquer criança. Choram, têm medos, têm necessidades, mimos e birras, ficam doentes, passam por fases de adaptação na escola, desfralde, ganham irmãozinho, mudam de casa, viajam, tudo como qualquer criança normal. 

O que ocorre é que pra mim nada é desculpa pra não dormir (ok, quase nada). Eu não me permito considerar esta hipótese. Senão amanhã eu não consigo mais ditar as regras, e quem dita as regras aqui sou eu.

Não tenho fórmula nem receita, vou ensinando quase que no instinto; o meu lema desde que eram bebezinhos era ensinar a dormir sem deixar de acolher. Enfim, foi dando certo.

Porém, Gabriela aprendeu a pular do berço e cair de cabeça no chão. Pulou uma, pulou duas, pulou três vezes. E eu saí correndo pra comprar uma cama pra ela.

Eu não tinha planos de fazer isso agora. Achei que poderia esperar ela completar dois anos e fazer a transição do berço pra cama sem pressa, como fiz com o João.

Mas ela se espatifou no chão e não me deu alternativas. Sequer pude escolher uma cama pra ela do meu gosto. Porque, na urgência, tive que optar por um modelo pronta-entrega. Não posso me dar ao luxo de esperar 40 dias pela entrega de um modelo específico de cama. Mas mesmo a pronta-entrega não é imediata. Cinco dias úteis. Por causa da agenda de entregas da loja.

Então que amanhã chega a cama da minha pequena. E acho que não tenho mais bebê em casa. (!)

E toda a minha saga de ensinar a dormir e tal, talvez tenha que ser retomada do zero a partir de amanhã.

Wish me luck!  


06 dezembro, 2013

Mãe internauta. Ausente. E culpada.



É inevitável.

Você tenta se manter desplugada do computador, celular e tablet por alguns momentos ou horas do seu dia. Simplesmente para se dedicar ao filhote. Claro. Porque não é possível estar presente de verdade como mãe se você está de olho na telinha do seu celular, se você está respondendo mensagens e navegando pela internet.

Tá. Você pode estar presente fisicamente. Olhando. Checando se a fralda está limpa. Cuidando para que ele ou ela (ou eles) não se metam em encrenca. Com um olho no peixe e outro no gato. (!)

Mas você não está presente de verdade. Não está. Mesmo.

E aí você se propõe a estar de corpo e alma como mãe naquele momento. E então desliga o monitor do computador, guarda o tablet, deixa o celular num canto.

Mas o celular vai te chamar! Maldito! Ele vai apitar uma nova mensagem. Ele vai vibrar. Ele talvez não toque. Mas você vai ficar com vontade de dar só uma olhadela para ver se alguém ligou, se aquele email já chegou, se a sua rede social te solicitou. Só uma olhadinha.

E aí você aproveita e responde aquela mensagem. Rapidinho. E, já que está com o celular na mão, vai clicando umas fotinhos do seu filhotinho. E pronto! Já não está mais com ele novamente.

O celular torna a mãe mais ausente. E mais culpada (de novo a culpa materna).

O celular e a internet revolucionaram o mundo. Trouxeram avanços maravilhosos, progresso e tals. E, junto com a tecnologia, houve uma mudança cultural. As pessoas hoje são diferentes por causa desse avanço tecnológico. Temos o mundo no bolso. Literalmente. A nossa cultura mudou. Os relacionamentos mudaram. As relações de trabalho idem. A rotina da cada ser humano. A maternidade também.

Por que haveria de ser diferente com as mães, não é mesmo?

Porque mãe sente culpa. Por qualquer motivo.

E hoje eu acordei com culpa. Culpa porque ontem fiquei horas navegando enquanto minha filha dormia e o meu filho – bonzinho demais – ficou pacientemente assistindo um filminho que liguei pra ele enquanto eu terminava meus afazeres na rede (não na rede de dormir! #seriamaravilhoso). Ele me esperou, me chamou em alguns momentos quando precisou ir ao banheiro e quando já estava com vontade do seu lanchinho vespertino. Mas esperou. E respeitou minha ausência.

E, justamente por ele ter me esperado e respeitado meu momento com tanta paciência, é que eu fiquei com culpa. Dormi com culpa. Acordei com culpa.

Quem nunca?

03 dezembro, 2013

A ronda

Marido que apelidou minhas atividades noturnas assim.

Porque eu realmente pareço um guarda noturno cumprindo uma função.

Filhotes devidamente acomodados em seus quartinhos, já entregues à Morfeu? Dou início às minhas atividades noturnas de sentinela.

Sim. Porque função de mãe não tem horário de encerramento de expediente. Rá! Quem pensou que filharada dormindo é momento de descanso da mãe, se enganou. Quem desejou que o filho fosse um dorminhoco, para assim, poder relaxar à noite, se enganou também. Rá! 

Mãe não está. Mãe é.

Portanto, a função é ininterrupta. Ok, tem momentos em que você está apenas de sobreaviso, podendo se dar ao luxo de fazer uma ou outra atividade não inerente à função materna. Porém... Bom, quem é mãe sabe. Quem não é mãe ainda, deixa ir pensando... Sonhar é uma delícia.

Então que, toda noite, sem exceção nenhuma, eu faço a ronda.

Antes de deitar, vou checar minhas crias. Dar um último beijo de boa noite, checar temperatura do quarto, dar uma olhada para ver se estão acomodadinhos. Só então posso dormir tranquila.

Lembro desde pequena da minha mãe passar no meu quarto, provavelmente antes dela ir dormir, para me dar um beijo de boa noite e me cobrir. Digo que lembro porque, algumas vezes, eu ainda estava meio acordada nesse momento. E eu fingia dormir! Primeiro, porque talvez eu não quisesse desapontá-la, já que ela entrava no quarto certa de me encontrar dormindo (!). Mas também porque eu queria ganhar aquele beijo dormindo, ainda que fingida! 

Talvez o beijo de mãe seja diferente quando o filho está dormindo, fico aqui pensando comigo, atualmente, décadas depois desse meu fingimento. 

Quando dou o último beijo de boa noite nos meus filhos, não é só um beijinho; tem aquele meu momento de ficar alguns instantes velando o sono deles. De admirar a carinha deles entregues aos sonhos. De dar uma cheiradinha em cada um. De dizer um "eu te amo" bem baixinho ao pé do ouvido. De olhar pra eles e me emocionar por eles existirem.

E, mesmo dormindo, fico achando que o inconsciente deles está captando esse momento. E, por isso, tenho convicção que o momento não é importante apenas para mim, mas para eles também, de alguma forma.

Feita a ronda, encerro meu expediente.   



02 dezembro, 2013

Massinha comestível!

Na escola dos meus filhos, a próprias professoras/auxiliares fazem as massinhas utilizadas nas atividades infantis.

Apenas com ingredientes naturais. Sem conservantes. 

Essa receita foi carinhosamente apelidada de massinha comestível. Porque não vai fazer mal se a criança colocar na boca ou ingerir um pedacinho.

E o melhor, dá pra fazer em casa! Super prática, mais segura do que as massinhas industrializadas (porque não é tóxica), mais barata, e dura cerca de 40 a 50 dias!

Mas, atenção! A massinha não é alimento! Não vale comer um monte! Mamães, fiquem de olho, e acompanhem a brincadeira de perto!

Aí vai a receita:















Ingredientes:
  • 1 colher de sopa de cremor de tártaro (pó)
  • 2 copos de farinha de trigo
  • 1 copo de sal
  • Anilina (para dar cor)
  • Água

Modo de fazer:

Misturar os ingredientes numa vasilha, e em seguida acrescentar a água aos poucos até dar o ponto.

Levar ao fogo e mexer até a mistura adquirir consistência e desgrudar do fundo na panela.

(Sugestão: acrescentar 1 colher de chá de vinagre, para aumentar a durabilidade da massinha)

Após esfriar, armazenar em potes de plástico.



Simples assim!

Mãos à obra e boa diversão!

28 novembro, 2013

A terceira avó do meu filho

Ela estava presente no dia que o João nasceu.

Quando eu acordei da anestesia e fui pro quarto, ela estava lá, me esperando, junto com minha mãe.

E, como ele nasceu antes da data prevista, o enfeite da porta da maternidade ainda nem estava pronto. E foi ela quem terminou de fazê-lo. Hand made. E pendurou ali na porta. 

E ficou tão lindo, que o enfeite está até hoje pendurado no quarto dele, com o nome dele escrito.

Quando ela presenciou o João dando seus primeiros passos sozinhos, ainda meio cambaleando, mas andando (!), ela chorou. 

E quando eu mudei de casa, grávida da Gabriela, sem poder carregar peso, foi ela que arrumou o meu armário, cada gaveta. E, depois disso, eu passei meses telefonando pra ela em horários bizarros pra saber onde estava minha sandália preta de festa, onde estavam os meus lenços, em que caixa estavam minhas necessaires... Onde estava? Só ela sabia.

E quando eu estava com nove meses de gravidez, foi ela quem arrumou a minha mala da maternidade. Porque eu não podia esquecer nada. E grávida esquece tudo!

E no dia que a Gabriela nasceu e o João foi conhecê-la na maternidade, ela foi junto com a minha mãe levar meu filho para conhecer o maior presente que já dei a ele! E ficou lá, presenciando aquele momento lindo. De espectadora apenas. Porque o momento era nosso. Mas ela sabia disso melhor que a gente.

E quando eu precisei, sem ter com quem mais contar, ela ficou na minha casa cuidando do João pra eu poder trabalhar. 

E, quando ela faz aniversário, o João senta na cozinha dela e come infinitos pedaços de bolo. Porque ela é mineira e na cozinha dela tem sempre bolo e pão de queijo. E ele ama!

E quando a minha mãe viaja, ela é quem fica de sobreaviso. Porque eu posso precisar de socorro com minhas crias né! 

E o João ama ela. E, vindo dele, isso é muito significativo. Porque ele não se entrega fácil. Mas ela já mora no seu coração.

E ela ama ele. 

Como avó.

26 novembro, 2013

Tão longe tão perto

Para refetir!


"Os pais nunca declararam amar tanto os filhos quanto agora. Eles fazem tudo o que podem e o que às vezes nem devem porque, por amarem tanto os filhos, não suportam vê-los sofrer. Esforçam-se para dar a eles o melhor da vida porque querem que os filhos tenham tudo o que eles próprios, quando crianças, não tiveram. Estabelecem com os filhos um relacionamento aberto, íntimo e amigável porque não querem ser autoritários e distantes como foram seus pais. Enfim: os pais estão, hoje, apaixonados pelos filhos.

É compreensível: em um mundo no qual os laços afetivos entre os adultos estão sempre por um fio e se desfazem por qualquer bobagem, o clima de insegurança afetiva provoca novas buscas. Como a união com os filhos é a única que, atualmente, só a morte dissolve, ela tem servido como o porto seguro afetivo dos pais.

Para ter idéia de quão longe isso vai: uma diretora de escola de educação infantil no interior de São Paulo contou-me que, no Dia dos Namorados, vários ramalhetes de flores enviados pelos pais às filhas chegaram à escola. O problema está nas contradições que esse amor declarado tem apresentado.

Os pais que adoram tanto seus filhos contratam babás para ficar com eles diuturnamente, inclusive domingos e feriados. Vemos pais cujos filhos estão segurando nas mãos da babá ou no colo desta nos shoppings, nos cabeleireiros, nos consultórios, em hotéis, restaurantes etc. E ter babá dá muito trabalho! É seleção, busca de referências, treinamento e depois, se surgirem desconfianças, instalação de câmeras etc.

Mães e pais que dizem amar seus filhos sem medida fazem com que novos negócios prosperem em tempos de recessão.Os pais vão a um casamento com os filhos? Não há problema. Os noivos contratam empresas de recreação que ficam o tempo todo com as crianças, para que os pais "curtam a festa sem restrições". Nas férias, os hotéis precisam ter uma equipe de monitores que, além de entreter as crianças, também almoça e janta com elas.

Por falar em férias, acampamentos para crianças rendem no período. Até pouco tempo atrás, eles recebiam só adolescentes. A demanda dos pais fez com que proliferassem locais que recebem crianças pequenas: os pais já podem mandar seus filhos a partir dos quatro anos (!) para uma temporada fora, com direito a "espiar" pela internet como eles se divertem!

Quando o filho faz aniversário e os pais querem demonstrar todo seu amor dando uma megafesta, sem problemas: contratam um bufê que cuida de tudo. E a escola, para ajudar, recebe autorizações de saída e organiza os convidados para colocá-los no ônibus que os leva da escola para o evento.

A falta de tempo dos pais tem sido usada para explicar tantas buscas de recursos. Mas esse estilo tem muito mais a ver com a nossa cultura. Amor demais sufoca e idealiza. Pode ser por isso que os pais apresentem tanta contradição: amam tanto a idéia de ter o filho que precisam ficar longe dele para, talvez, não perderem o filho que imaginam ou gostariam de ter."