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18 novembro, 2013

Sobre a morte


Meu avô faleceu.


Desde criança, eu sempre temi este momento. Há décadas que tenho medo de ouvir o telefone tocar fora de hora, porque é em meus avós que sempre fica meu pensamento nessa hora. E a hora dele chegou. 

E ele partiu sereno e quase sorrindo. E, horas antes, naquele mesmo dia, eu passei a tarde de mãos dadas com ele, e ambos sabíamos que aquela era a nossa despedida.

E eu o velei. E senti no coração esta perda. Mas me despedi conformada, e vou guardar para sempre comigo os momentos que vivi com ele. E, principalmente, vou guardar comigo tudo que aprendi com ele. E ele nem sabia que estava me ensinando.

No dia seguinte, sentei com o João para contar a ele que o biso partiu. Porque acho que criança tem direito à verdade. Isso é respeito.

E tivemos o seguinte diálogo:

- João, a mamãe tem uma coisa triste para te contar. O biso morreu.

- Mas o que aconteceu com ele, mamãe?

- Filho, o biso estava muito doente e muito velhinho. Agora ele está no céu e, todas as noites, nós vamos poder olhar as estrelinhas e lembrar dele.

- Mas, a bisa vai ficar sozinha, mamãe? (nessa hora meus olhos se enchem de lágrimas)

- Sim, João. A bisa não tem mais o biso. Mas a gente vai poder visitá-la sempre, pra ela ficar feliz.

- Tá bom, mamãe.

Eu jamais seria capaz de omitir esse fato dele. Quanto mais mentir e fantasiar a respeito, dizendo que o biso está viajando ou está doente, ou qualquer fantasia do gênero. Eu respeito meu filho acima de tudo e devo a ele a verdade sobre o mundo. Pessoas morrem. Eu adoraria que não fosse assim. Eu adoraria poupá-lo das tristezas do mundo. Mas não posso. Eu não tenho esse direito.

Quando o João nasceu, meu avô veio de SP especialmente para conhecê-lo. Só pra isso. E sentou-se ao lado do João, recém-nascido, e o João segurou forte o seu dedo.

Não acho que criança deva ser exposta a tudo, até porque elas não têm repertório para lidar com muita coisa sobre o mundo dos adultos. Por isso, jamais cogitaria levar meus filhos a um velório, enterro ou mesmo missa de sétimo dia. Também não acho que criança deva presenciar os adultos chorando ou lamentando uma morte. Tudo a seu tempo. Um dia eles vão entender todo esse processo ou, ao menos, adquirir maturidade para lidar com essa realidade, mas isso vai ocorrer gradativamente, conforme os anos se passarem.

Por ora, devo-lhes apenas a verdade. Os fatos. Não abro mão disso. Não abro mão de responder às suas perguntas. Não abro mão da verdade. Pelos meus filhos, jamais.

REST IN PEACE, GRANDPA. 





2 comentários:

  1. Tb sou a adepta da verdade, por mais dificil que seja de digerir.
    Adorei que vc se abriu assim ❤❤

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  2. Que lindo esse post Ju. Concordo com vc, falar a verdade é respeitar a criança,elas sentem segurança quando sabem o que está acontecendo ao redor. Claro, sem pular etapas...tudo a seu tempo.

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