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14 novembro, 2013

A criança e a natureza


Eu nasci em São Paulo. Vim morar no interior com 3 anos de idade.

Foi a melhor coisa que meus pais poderiam ter feito pela minha infância.

Naquela época, Ribeirão Preto era praticamente um sítio (!!). Morávamos numa rua em que o guarda de rua, da vizinhança, fazia a ronda a cavalo. Minha mãe conta que eu andava de triciclo (que eu chamava de "bibi") sozinha na rua e o guarda ia a cavalo atrás de mim. 

No fim de tarde, eu ia de mãos dadas com minha mãe buscar leite de vaca ordenhado na hora (!) em uma fazendinha a poucos quarteirões da minha casa. Era a nossa padaria! Levávamos um galão de latão, estilo vovó Donalda, e voltávamos pra casa com o latão pesado de leite.

Bons tempos aqueles! Dá uma saudadezinha que até dói...

Tudo isso porque, antes de deixarmos a capital, um belo dia, meus pais nos levaram (eu e sister) a algum lugar onde tinha grama para as crianças brincarem. Talvez um parque ou pracinha. Eu e sister, pequeninas de tudo, ao pisarmos descalças na grama, estranhamos aquela coisa verde piniquenta e ficamos quase com medo da grama.

Pronto!

Não precisou de mais nada para meus pais decidirem que não queriam criar as filhas numa cidade em que criança não conhece grama.

Pouco tempo depois, já morávamos no interior.

E eu tive uma qualidade de vida na infância que certamente não teria numa capital. Brinquei muito, mas muito mesmo, na rua. De amarelinha, pega-pega, queimada, bets. Cansei de ir pra escola de bicicleta. Cansei de ir a pé na casa das amigas, na aula de inglês, na locadora de vídeos. Todas as crianças brincavam na rua, era a coisa mais normal do mundo. 

E tínhamos muito contato com a natureza. Cidades do interior têm disso. Todas as casas têm jardim, ainda que mínimo. Terra e verde. Zero cimento. Eu montava labirintos de Lego e colocava tatus-bola, centopéias e lagartixas para encontrar a saída dos meus labirintos. Eu pegava filhotinhos de pomba na rua e levava pra casa para cuidar. Eu sempre tive cachorro. E periquitos.

Mas minha cidade não é mais a mesma.

Hoje eu não vejo nenhuma criança na rua. Estão todas protegidas dentro de suas casas e apartamentos arrumadinhos. No ar condicionado. Limpinhas. Se entretendo com seus vídeo-games, filminhos e tablets. E seus brinquedos de pilha. Uma vida tão urbana!

E eu sempre me pego pensando que seria tão legal se os meus filhos pudessem viver um pouco o contato com a natureza que eu tive na infância. Tento proporcionar a eles o que está ao meu alcance. Casa com jardim. Passeios ao ar livre. Pracinhas. Clube. Escolhi uma escola que dá importância para a natureza. Onde eles aprendem sobre os animais e seus habitats (sim! aos 4 anos ele chega em casa me contando que aprendeu sobre o "habitat" das baleias! adoro!). Na escola deles, tem tartarugas, coelhos, codornas e porquinho da índia. 

No que dá, eu até consigo que eles tenham um pouquinho de natureza em suas vidas. Mas ainda fico um pouco pesarosa pela vida moderna ter se tornado tão urbana. Reconheço os benefícios da modernidade, óbvio, mas fico um pouquinho saudosa daquela época. Me dá a impressão (talvez até equivocada) de que as crianças eram mais saudáveis.

Enfim, divago.

O fato é que, no condomínio onde moramos, chegaram essa semana centenas de árvores, frutíferas e ornamentais, para serem plantadas numa determinada área verde reservada do próprio condomínio. E o plantio está sendo feito hoje por uma empresa especializada. 

Mas, para a felicidade das crianças que moram aqui, foram reservadas várias árvores para serem plantadas pelas próprias crianças, com direito a plaquinha em cada árvore com o nome da criança que plantou e a data. E cada um vai poder acompanhar o crescimento de sua própria árvore. O evento do plantio infantil vai acontecer amanhã, no feriadão (pra quem micou e não tem programação!).

E, no meio da vida agitada e turbulenta da cidade, em meio a tanta tecnologia, veículos e cimento, eis que meus filhotinhos vão plantar uma árvore! 

E, depois disso, só lhes restará escrever um livro e ter um filho.

Paremos por aqui.



5 comentários:

  1. Vale plantar arvore, ter filhos e escrever um blog?!

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  2. Adorei! Eu também agradeço muito por termos mudado para Ribeirão e ter crescido com brincadeiras de rua (e não era condomínio né). Mas acho que eu tomava leite de caixinha já... ou de saquinho rs.

    Ah, me lembro que você gostava MUITO de bichos e cia =).

    beijos,
    Laís.

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    1. Eu lembro do leite de saquinho também! Kkkkk! Beijos!!

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  3. A infância no interior é a melhor do mundo, brinquei tanto na rua, a porta da minha casa ficava destrancada! Mas hoje, para ter essa liberdade e contato com a natureza, só nos condomínios fechados mesmo.
    Ps: Reserva o terreno do lado da sua casa pra mim, pls. Tks :))

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